Algumas situações na nossa vida nos fazem repensar o que
afinal de contas estamos fazendo aqui...
Consegui realizar uma vontade imensa do meu coração que
antes nunca tive coragem, visitar um abrigo de crianças que por algum motivo
não vivem com seus pais. O óbvio não demonstra nem um milésimo do aperto que
está no meu coração. Paro pra pensar de que adianta ocuparmos todo nosso tempo
tentando construir uma vida estável, nossa casa, nosso carro, um vestido novo,
uma pizza com a galera.
Aquelas crianças não querem dinheiro, não querem roupas
novas, não querem presente, elas querem a sua presença, um abraço apertado, um
sorriso doce, uma brincadeira boba. Elas querem você, só você, mais nada.
De alguma forma o mundo vem nos transformando em corações
tão duros, tão solitários que mesmo conhecendo a realidade a nossa volta
fazemos de conta que isso nunca nos disse respeito, minhas dores são maiores,
minhas decepções são melhores, eu sei o que é sofrer, o resto do mundo se vira
bem sozinho.
Como é que faz quando você tem 4 anos de idade e ninguém pra
chamar de mãe?.
Como é que faz pra sobreviver quando você sabe que todo
mundo, hoje ou amanhã vai embora,
ninguém fica tempo suficiente pra ter a certeza que um dia vai voltar...
Ao mesmo tempo, é muito raro alguém que resolva te ver, e
quando isso acontece não tem como desperdiçar, abraços, carinhos e todo amor do
mundo, mesmo que dure apenas 10 min e depois se vá.
A sensação de ser a pessoas mais amada desse mundo.
A sensação de ser o pior ser humano dessa terra.
Quanto tempo perdi, quantos sorrisos, abraços meus não foram
distribuídos, só porque eu nunca parei o suficiente a minha vida pra encontrar
a vida dos outros. A chama de esperança que queimava lá, no fundo dos olhos
daquele menino, pré-adolescente, com todas as dúvidas, incertezas e
dificuldades que essa fase nos trás, além de tudo tendo que ser o dono do
próprio destino, porque ele sabia do que o mundo era capaz, mesmo assim de
alguma forma ele não deixou a chama se apagar. Deus na boca dele, me pareceu
mais Deus que em qualquer canto do mundo.
Ana Claudia Longhini Gomes.
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